QUEM PODE ME SEGUIR SOU EU. SERÁ?
Uma só alegria basta para abalar um velho coração, que já não é lá essas coisas, agora empanturrado de coisas boas. Claro que ele não é bem o órgão ideal pra isso embora seja ele o que mais sente pauladas ou afagos; tem um lugarzinho no cérebro que faz essas coisas. Mas o coração virou símbolo de ser isso e aquilo, de bom ou de mau, e também o que recebe; uma espécie de porta de entrada do nosso corpo; o centro de nossas emoções.
Quando minha juventude ficou pra trás achei que o velho Descastes e o bom Spinoza tinham resolvido minhas angustias e preocupações; nós (que ousadia!) éramos racionalistas; e mais: que essa corrente filosófica já era uma doutrina um século antes de Jesus pregar o amor o perdão, oferecer a outra face para um novo tapa, essas coisas que ninguém pratica, mas que sai da boca de todo mundo. Eu não.
Não mudei de opinião e acho que o Racionalismo é o centro e a base do pensamento liberal que propõe alcançar determinado fim para o interesse coletivo. E isso sobre a base do planejamento e da organização abrindo caminho para soluções racionais.
E a dor e a alegria? A saudade e a satisfação da presença de quem se ama? A exuberante sensação de orgulho da conquista? Estão no coração assim como a raiva, o ódio, a mentira, a inveja; todas as maldades e todas as bondades estão no coração, sim senhor! Mas, só porque a razão quer.
Pois esses meses de junho e julho do gracioso ano de 2015 meu coração assumiu o comando e fez de mim gato e sapato. E espevitou-se tanto que cambaleou de um lado para o outro perigosamente; mas resistiu. E transbordante de alegria parnasiana esta zombando das dores do passado.
É assim que posso explicar esse meu coração: primeiro, minha irmã – que não nos víamos há décadas, mas nos falávamos com muita frequência, veio me visitar; comemorar com minha mulher e meus filhos – sua cunhada e seus sobrinhos que não conhecia – meus 75 anos de participação ativa sobre esse planeta Terra. Foram dez curtíssimos dias e noites de muita conversa. De recordações de todos os tipos e de muitas pessoas, de coisas e animais. Animais sim: o cachorro Brasino, a ovelha Chica, o cavalo Baio. De pessoas falamos sobre amigos e parentes – mortos e vivos, mas deixamos de lado alguns que não merecem sequer meio dedo de prosa – e falamos principalmente de nós dois (que é o que interessa), um pouco do presente e muito, mas muito mesmo, do nosso passado. E acima dessas coisas do quanto eu a protegia das peripécias e pequenas lambanças infanto-juvenis que fazia. Sempre fomos muito apegados, muito próximos, apesar das pedras que jogaram em nossos caminhos.
Assim enchemo-nos de recordações, de alguns conselhos, de comidas e de bebidas, e ela de fumaça o pulmão. O que se há de fazer? Com pouca visão não pode ver muitas coisas, mas sentiu o amor da cunhada, dos sobrinhos e o meu, inesquecível, e agora renovado. Já voltou pra casa; pra seu filho, seu neto, suas noras; e fez uma boa viagem.
Pois esse meu coração “empirista” e eu um desavisado, depois dessa revisita aos idos do passado, fui mais uma vez comandado por ele. Pedro, meu filho mais moço dos quatro, com 17 anos de idade, antes mesmo de concluir o ensino médio, foi aprovado no vestibular da Faculdade de Arquitetura e inicia o curso já no segundo semestre desse ano na Universidade de Fortaleza-UNIFOR (conceito 4 do MEC – de 1 a 5), onde também minha filha Cecília, com 19 anos de idade, já cursa o Quarto Semestre da Faculdade de Direito.
Assim foram-se às favas meu Racionalismo e me entreguei ao Empirismo do coração. Racionalmente, porém, foi o que pude fazer de melhor nesses últimos 20 anos da segunda etapa de minha vida, encorajado e revivido por Ciza, minha mulher. Agora ando pra lá e pra cá (como escreveram Graco e Caio Silvio; e Fagner cantou) com esse meu coração alado e desfolhando meus olhos nesse escuro véu...nessa estrada só quem pode me seguir sou eu. Será?
Meu cunhado César Cabral, que revendo coisas aqui no meu celular encontrei essa preciosidade de escrito. Li com muita atenção, me emocionei até. Quando falas do teu passado, o que conversaste com a irmã. O sucesso dos filhos e a convivência prazerosa com Ciza. Velhas e boas recordações. Abraços.
ResponderExcluir